segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

For me, it isn't over.






 
 You'd know how the time flies, only yesterday was the time of our lives
We were born and raised in a summery haze, bound by the surprise of our glory days
 

Eu podia sentir as voltas que meu estômago dava ao lembrar o que teria que fazer hoje. Eu não sabia quanto tempo fazia. Ok, eu sabia sim. Cinco anos, três meses e uns dias. Era o tempo que não via Alex. Ele havia voltado a cidade e gostaria de me dar uma novidade. Eu sabia qual era a novidade, ele ia se casar ou talvez já estivesse para ser pai. A verdade é que tudo aquilo fazia meu estômago ganhar vida. Ainda lembrava de como crescemos juntos, das noites que fugi para sua casa para não ouvir meus pais brigando e gritando. Fomos para a mesma faculdade e depois disso nos separamos pela primeira vez em 21 anos. Foram nossos tempos de glória, ou, pelo menos, foram os meus. Lembrar da nossa história me fazia rir e voltar sempre para a mesma passagem. Segundo ano da faculdade e o beijo. O beijo que desencadeou trinta dias de pura entrega e, provavelmente, os dias que me senti mais completa ao longo desses vinte e seis anos. Então ele disse que não queria que confundíssemos tudo e nos perdêssemos ao nos apaixonarmos. Sempre fomos melhores amigos, mas a verdade é que eu o amava e isso nunca mudaria.

Terminei de me arrumar e cheguei ao pequeno café, observando ele e a eleita ao seu lado. Os olhos não se contiveram e uma pequena lágrima escorreu. Entrei no café, utilizando o máximo que possuía de auto controle e me sentei em frente a eles. Sorri, falando baboseiras para os dois, até que ele me interrompeu e eu pude sentir o mundo gelando:

 - Sophie, eu preciso te pedir algo – Ele fez uma pausa e olhou para Kathy, abrindo um sorriso apaixonado e logo continuou – Eu quero que seja meu padrinho e a madrinha do meu filho. O que acha?

 
Never mind, I'll find someone like you, I wish nothing but the best for you too
Don't forget me, I beg, I remember you said
 
Eu me senti arremessada por um caminhão contra uma parede. Aquilo me quebrou em pequenos cacos. Meus olhos deviam mostrar que havia algo de errado, porque ela olhou em meus olhos e abaixou a cabeça. Provavelmente meus olhos diziam “Era para se eu, Alex, seu burro.” Eu estava chorando por dentro e sem me perceber, as lágrimas escorriam pelo rosto. Só as notei quando ele estendeu um pequeno lenço e enxugou meus olhos, falando calmo e animado:
 
- Oh, Sophie, não precisa chorar. Não imaginei que se emocionaria tanto com minha felicidade
 
Meus dentes rangiam enquanto tentava me manter inteira, sem falar absolutamente nada. Demorei alguns instantes para me recompor e então olhei para os dois, abrindo o sorriso mais fingido que consegui diante daquilo e falei baixo:
 
- É uma honra, Alex. Não achei que me escolheria. Mas é claro que aceito. Será fantástico – Eu queria acreditar absurdamente em cada uma das palavras que disse.
 
Eles continuaram a me contar sobre todos os planos, detalhes e eu confesso que não ouvi muito. Eu podia dizer que, além do corpo, eu não estava mais ali. Eu estava em um quarto e nele a dor me socava a barriga, esbofeteava o rosto e, quando cansada, apenas espetava com os cacos daquilo que um dia chamei de coração. Era para ser eu, eu. Mas, diante da situação, eu deveria me conformar e aceitar que aquela não era a minha vez. Um dia eu acharia meu Alex.
 

Sometimes it lasts in love
But sometimes it hurts instead
(Someone like you – Adele)

domingo, 29 de janeiro de 2012

If you...





 
 
We disappeared into each other, colors appeared and bleed into one
Fade into me, fade into you, two of us melting together until we become something new
 
A música havia começado e ela não havia notado que Tom estava ali. As mãos dele se prenderam em sua cintura, abraçando-a por trás, sem pressa. Ela deu um pequeno pulo de susto e logo se aconchegou em seus braços. Ambos em silêncio. Tom apertou-a um pouco contra seu corpo conforme aproximou os lábios de sua bochecha, depositando ali um beijo demorado. Ela abriu um sorriso bobo ao passo que as mãos dele a giraram no eixo em que se encontrava, fazendo com que ela virasse de frente para ele. Mandy notou o brilho nos olhos dele e sorriu, sem dizer absolutamente nada. Seus braços se prenderam ao pescoço dele e os olhos dela não desviaram dos dele. Ele sorriu, calmo e singelo. Tom desviou os olhos para os próprios pés, enquanto arriscava dar um pequeno passo para o lado, seguido de um outro na mesma direção. Ela riu e o acompanhou, apertando-se em seus braços. Ele voltou a olhar para ela e aproximou o rosto até que a lateral do seu nariz tocasse o nariz dela. Um podia sentir a respiração do outro próxima e calma. Ele foi o primeiro a falar, baixinho:
- Já peço desculpas se pisar no seu pé, amor. – Ele sorria apenas com o canto da boca e vez ou outra desviava os olhos para os pés, apenas para se certificar que, apesar de desajeitados e tímidos, nenhum deles fosse pisar no lugar errado.
 
We can't escape and watch the world chasing to find us,
Both of us hidden from view, if you fade into me.
Ele não havia notado o sorriso bobo dela. Ela sempre se imaginou dançando com ele ao som daquela música. Eram apenas os dois ali e certamente o mundo podia ter parado de rodar, ela não teria notado. Ali nos braços dela, ela se sentia parte dele, como se fossem um só. Ela se apertou nos braços dele e logo tocou os lábios dele com os seus, selando-os demoradamente, antes de sussurrar contra a sua boca:
- Sabia que eu amo quando realiza minhas vontades mais bobas e adolescentes? – Ele não a respondeu, apenas se afastou e agarrou uma das mãos dela, rodopiando-a uma vez, antes de puxá-la para junto de si, beijando seus lábios demoradamente.
---
Os olhos dela se abriram e ela sorriu para si mesma, frustrada ao constatar que aquela dança tinha sido apenas fruto da sua imaginação. A música era a única coisa real, aparentemente ela se repetiu todo o período em que ela havia dormido. Mandy, como no sonho, não havia notado que Tom estava parado ao lado da cama. Ele se aproximou dela, ajoelhou-se em sua frente e olhou em seus olhos, abrindo um sorriso instantaneamente. Ele estendeu uma das mãos para ela, enquanto com a outra, levou até o colo dela uma margarida cor-de-rosa. Ela olhou para a flor e depois para ele, agora sorrindo. Antes que dissesse qualquer coisa, Tom lhe perguntou baixinho:
 
-Amor, me daria a honra desta dança?
 
Not gonna fall in, drown in the moment with me
Sinking till we start to breathe
(Fade into me – David Cook)

Oh, lie, lie, lie.



A candle burns away, the ashes full of lies
I gave my soul to you, you cut me from behind

Esta era a tentativa de Cécile para retomar as rédeas de seu casamento. Era dia dos namorados e ela optou pelo clichê dos jantares a luz de velas. Ele andava chegando extremamente tarde nos últimos meses e ela acreditava ser o problema. Combinou tudo com Jack para que ele chegasse em casa quando tu estivesse pronto. O horário havia passado e lá estava ela, sentada naquela cadeira, observando as velas queimando. Ela estava decidida a esperá-lo. Por volta das duas da manhã ele chegou em casa. A sua surpresa foi tamanha que congelou perto da porta ao vê-la sentada ali. Os passos dele foram cautelosos até chegar nela e logo começou a disparar:
– Desculpa, querida, eu me perdi no trabalho e esqueci do que havíamos combinado. – Ele estava transpirando e ainda sobressaltado.
– Não, você não estava no trabalho. – Ela suspirou e desviou os olhos para a vela – Eu liguei lá há algumas horas e o faxineiro disse que todos haviam ido embora, Jack.
Ele abaixou a cabeça e era possível notar sua respiração perdendo o compasso. Ele voltou a olhar para ela e ela não deixou que ele falasse.
– Jack, me conta uma verdade, apenas uma. Por favor.
– Eu amo você, Cécile. – Ele tentou soar sincero.
– Eu disse uma verdade, Jack. – Ela estava absurdamente calma.
– Eu estou te traindo há cinco meses, Cécile. – Ele finalmente admitiu.


Nowhere to run and nowhere to hide, you’re scared of the truth, I'm tired of the lies
‘Cause who I am is where you want to be
Don't act like an angel, you've fallen again
You're no superhero, I've found in the end

Ela voltou os olhos para ele e sorriu. A vela não muito longe dela terminou de queimar. A voz dela voltou a sair baixa enquanto ela tentava não se descontrolar.
– Agora minta para mim de novo, Jack.
– Eu amo você, Cécile.
– Jack, agora me peça para te contar uma verdade e uma mentira. – Ela tentou controlar o seu riso, era puro nervosismo, mas ela não conseguiu segurá-lo. Riu por algum tempo. Jack sabia que aquele era o jeito dela de externar tristeza.
– Cécile, diga para mim que tudo vai ficar bem e que vamos superar isso?
– Quer que eu minta então? Ok, eu vou mentir. – Ela suspirou e voltou a ficar séria – Vamos superar isso, Jack, mesmo que eu não te ame mais.
Ela proferiu aquelas palavras com tanta dificuldade que ele soube que todas eram mentira. Ela nunca foi boa com mentiras. Todos sabiam disso. Ele tentou se controlar, mas constatou que estava agora a beira do desespero. Tentou olhar nos olhos dela, mas ela desviou o olhar para o candelabro ao seu lado.
– Amor, diga alguma coisa... – Ele estava em pânico.
– Eu vou te contar uma verdade, amor... – Ela proferiu com escárnio a ultima palavra – Eu não suporto mais viver com você e estou te deixando, Jack. – Ela fez um pausa e voltou os olhos para ele, encarando-o duramente – Você é a maior decepção da minha vida, Jack e nada vai mudar isso.
Ela se levantou e caminhou em direção a porta. Jack ficou devastado, abaixado no mesmo lugar por algum tempo. E ela, bom, ela foi procurar um lugar em que pudesse libertar todas as lágrimas presas em seus olhos.


I want to close my
eyes and make believe that I never found you 
Just when I put my gun away, it's the same old story 
You left me broken and betrayed, it's the same old story
 
Ela caminhou pela rua escura, levemente úmida. Lembrava uma cena digna de um filme de terror. Cécile riu da própria desgraça enquanto vagava por ali. Ouviu passos não muito longe, mas não deu importância. 
Foi tudo muito rápido e logo um braço circundou sua cintura. A boca fria daquela pessoa tocou seu pescoço ao passo que suas presas perfuraram a sua pele. Ela não gritou, mas sentia sua vida escapando por aqueles dois orifícios. Suas pálpebras se tornaram pesadas aos poucos e depois disso, tudo que ela lembraria era da escuridão. E quando o assunto era escuridão, já diziam as gueixas, é tudo segredo.