domingo, 29 de janeiro de 2012

Oh, lie, lie, lie.



A candle burns away, the ashes full of lies
I gave my soul to you, you cut me from behind

Esta era a tentativa de Cécile para retomar as rédeas de seu casamento. Era dia dos namorados e ela optou pelo clichê dos jantares a luz de velas. Ele andava chegando extremamente tarde nos últimos meses e ela acreditava ser o problema. Combinou tudo com Jack para que ele chegasse em casa quando tu estivesse pronto. O horário havia passado e lá estava ela, sentada naquela cadeira, observando as velas queimando. Ela estava decidida a esperá-lo. Por volta das duas da manhã ele chegou em casa. A sua surpresa foi tamanha que congelou perto da porta ao vê-la sentada ali. Os passos dele foram cautelosos até chegar nela e logo começou a disparar:
– Desculpa, querida, eu me perdi no trabalho e esqueci do que havíamos combinado. – Ele estava transpirando e ainda sobressaltado.
– Não, você não estava no trabalho. – Ela suspirou e desviou os olhos para a vela – Eu liguei lá há algumas horas e o faxineiro disse que todos haviam ido embora, Jack.
Ele abaixou a cabeça e era possível notar sua respiração perdendo o compasso. Ele voltou a olhar para ela e ela não deixou que ele falasse.
– Jack, me conta uma verdade, apenas uma. Por favor.
– Eu amo você, Cécile. – Ele tentou soar sincero.
– Eu disse uma verdade, Jack. – Ela estava absurdamente calma.
– Eu estou te traindo há cinco meses, Cécile. – Ele finalmente admitiu.


Nowhere to run and nowhere to hide, you’re scared of the truth, I'm tired of the lies
‘Cause who I am is where you want to be
Don't act like an angel, you've fallen again
You're no superhero, I've found in the end

Ela voltou os olhos para ele e sorriu. A vela não muito longe dela terminou de queimar. A voz dela voltou a sair baixa enquanto ela tentava não se descontrolar.
– Agora minta para mim de novo, Jack.
– Eu amo você, Cécile.
– Jack, agora me peça para te contar uma verdade e uma mentira. – Ela tentou controlar o seu riso, era puro nervosismo, mas ela não conseguiu segurá-lo. Riu por algum tempo. Jack sabia que aquele era o jeito dela de externar tristeza.
– Cécile, diga para mim que tudo vai ficar bem e que vamos superar isso?
– Quer que eu minta então? Ok, eu vou mentir. – Ela suspirou e voltou a ficar séria – Vamos superar isso, Jack, mesmo que eu não te ame mais.
Ela proferiu aquelas palavras com tanta dificuldade que ele soube que todas eram mentira. Ela nunca foi boa com mentiras. Todos sabiam disso. Ele tentou se controlar, mas constatou que estava agora a beira do desespero. Tentou olhar nos olhos dela, mas ela desviou o olhar para o candelabro ao seu lado.
– Amor, diga alguma coisa... – Ele estava em pânico.
– Eu vou te contar uma verdade, amor... – Ela proferiu com escárnio a ultima palavra – Eu não suporto mais viver com você e estou te deixando, Jack. – Ela fez um pausa e voltou os olhos para ele, encarando-o duramente – Você é a maior decepção da minha vida, Jack e nada vai mudar isso.
Ela se levantou e caminhou em direção a porta. Jack ficou devastado, abaixado no mesmo lugar por algum tempo. E ela, bom, ela foi procurar um lugar em que pudesse libertar todas as lágrimas presas em seus olhos.


I want to close my
eyes and make believe that I never found you 
Just when I put my gun away, it's the same old story 
You left me broken and betrayed, it's the same old story
 
Ela caminhou pela rua escura, levemente úmida. Lembrava uma cena digna de um filme de terror. Cécile riu da própria desgraça enquanto vagava por ali. Ouviu passos não muito longe, mas não deu importância. 
Foi tudo muito rápido e logo um braço circundou sua cintura. A boca fria daquela pessoa tocou seu pescoço ao passo que suas presas perfuraram a sua pele. Ela não gritou, mas sentia sua vida escapando por aqueles dois orifícios. Suas pálpebras se tornaram pesadas aos poucos e depois disso, tudo que ela lembraria era da escuridão. E quando o assunto era escuridão, já diziam as gueixas, é tudo segredo.
 

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