quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Não sei, não sei.


Os olhos se abriram e tudo que vi foi o teto do quarto, já banhado com os raios de sol de mais um dia igual aos outros. A vontade de sair da cama não existia. A dormência se encontrava instalada em mim mais uma vez. As mãos e os pés formigavam, enquanto aos poucos ia me mexendo. Os dedos percorreram os cabelos, jogando a franja bagunçada pra trás, os pés iam se mexendo em pequenos circulos, afim de fazer o formigamento parar. Sabia que isto não aconteceria, mas tentava mesmo assim. O corpo preguiçoso finalmente se levantou e rapidamente enrolei-me na coberta. O frio deixava o clima agradável e meus pés não protestaram ao pisar no chão gelado, não fazia diferença.

Sem saber porque ou o que, procurei em volta, mas não achei nada. Talvez estivesse procurando uma bengala para dar apoio. Talvez tivesse procurando o sorriso que ficou em algum canto da estante. Ou ainda podia estar procurando a lágrima que um dia um palhaço me deu, onde o mesmo mostrava o que estava embaixo daquela pintura alegre e feliz. Talvez fosse saudade de coisas que sabia que sentia falta e de tantas outras que não imaginava. Quem sabe fosse a vontade de fazer algo para mudar tudo que parecia tão igual e tão monocromático?

Não sabia, mas estava cansada de ver tanto azul a minha volta. Sempre gostei do azul, mas sempre lembro de Apologize e como azul nem sempre é algo bom. Quem sabe alguns pequenos potes de tinta pudessem resolver este problema. Quem sabe um pouco de ajuda pudesse fazer bem também.

No fim, não sabia do que precisava, mas sabia, mesmo com a dormência, o que eu precisava ter por perto para que meu dia fosse menos azul e mais colorido. Tinha meus pequenos potes de tinta, cada um deles trazia uma nuance diferente para minha vida. Só parecia dificil, em um dia como hoje, juntar todas e ter meu arco-íris de volta.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

'Cause you love and you bleed (1)


Um texto antigo que devia ter colocado aqui antes.



Não se sabia ao certo quando havia começado, ou melhor, o começo foi um pequeno flash na história. Ela cruzou com ele e ambos se olharam de relance e seguiram seus rumos. Ele tinha uma vida e ela outra bem diferente. Aquela fora a única vez que ambos se olharam em anos.

    Os dias se passaram, as noites tornaram-se novamente dias e os anos caminharam, até que um belo dia, ela olhara por uma janela, espiando, curiosa, torcendo para não ser notada ou vista, mas foi pega no pulo. Uma porta se abriu e lá veio ele, olhar desconfiado, mãos no bolso, passos firmes. Ela se encolheu por uns instantes até que pudesse ver seu rosto, ela o reconheceu prontamente, enquanto ele não teve a mesma facilidade, seus cabelos antes curtos, agora estavam longos e claros. Ele mantinha a distância segura, enquanto ela sorria contando onde eles tinham se visto e como ela ainda lembrava de tal pequeno encontro. Ele sorriu, ainda desconfiado e sua memória era boa o suficiente pra que depois de um tempo ele lembrasse do que se passou. Ali, em frente àquela janela, eles conversaram, por horas, como se sempre tivessem feito isso. Um assunto puxava o outro, uma ponta levava a outra e a teresa de assuntos deles estava formada. Risos, desabafos, pequenos pedaços do que ambos passaram foram sendo revelados.

    Ele era um policial de regata branca, cara de mau, bem apessoado, com a voz calma, uma touca prendendo os cabelos que esvoaçavam a cada pequena rajada de vento. Ela, era uma jornalista desastrada, sem muito rumo, um sorriso constante no rosto, nervosismo aparente, que se transcrevia em palavras confusas, que no fim faziam algum sentido. Ali nasceu uma bela amizade. Ela sorria como uma criança com sua presença e sua conversa descontraída, ele sorria de volta, parecendo gostar da presença dela.

    Ele sumia por longos tempos, mas sempre voltava, com o mesmo sorriso de canto, a pose de rapaz seguro, aqueles olhos atentos a cada pequeno detalhe, mesmo que escondido. Ela se impressionava com a capacidade dele de ler as pessoas, com um olhar. Ela não tinha medo de ser ela quando perto dele. Torcia para suas aparições serem menos escassas, a cada vez que ele sumia. E no fim ela sempre esperava, para falar com aquele grande menino fechado em uma armadura, que quando vista de perto, tinha apenas a função de afugentar quem olhava de longe. A Cada encontro, novas nuances dele apareciam, ele não era do tipo que mascarava o que sentia, se abria e se jogava, independente do que achassem, era a melhor parte de tudo. Ela sabia que ele não tinha meias palavras, era o que era e ela se contagiou com aquilo e parou de tentar manter a pose de segura, revelando pouco a pouco suas fragilidades, suas bobeiras e suas criancisses. Ela nem de longe era perfeitinha ou desprendida, ela era garota em corpo de mulher, que tropeçava por onde passava, que tinha receio de se aproximar de pessoas novas por não se achar aceitável, ela fora escrava do medo de não agradar até que ele aparecesse. Ele tinha um coração sofrido, receoso e cheio de pequenas cicatrizes de maltratos em seu passado, já ela, tinha um coração bagunçado, confuso, com pequenas feridas, ainda com cascas cicatrizando. Eles pareciam se entender, em meio as suas histórias tortas, porém reais.

    Mais um período sem que ele aparecesse no mesmo lugar de sempre, ela achou que ele nunca mais viria, mas ele apareceu, ele sentira sua falta, assim como ela sentiu a dele. Ele deu o endereço de seu apartamento, caso ele sumisse demais, lá seria o lugar onde ela poderia o encontrar com mais certeza. Ela guardou o pequeno pedaço papel em seu bolso, já que não carregava bolsa. Ao chegar em casa, guardou o papel em seu pequeno mural, ali poderia olhá-lo até tomar coragem de vê-lo em seu local privativo.

Ela ficava longe de quase todo mundo, apenas por achar que seria inconveniente, ou chata ou encheria o saco, apesar dele não parecer ter tais sensações.

   Mais dias foram-se embora até que ela saísse no meio de uma madrugada de insônia, atrás de seu chocolate quente favorito e sem que se percebesse, ela andava pro lado oposto, ia em direção ao endereço que ele dera. Ela parou ali em frente por alguns tempos enquanto ponderava consigo mesma sobre o que fazer, ainda mais dado o horário, foi quando ela ouviu uma voz atrás dela e um toque em seu ombro que a fez saltar de susto: " É você mesmo né? Finalmente veio" e ele se virou para ele e sorriu. Os dois subiram. Ele pegava as roupas espalhadas pelo chão do lugar e ela ria, ao ver que não era só ela a não ser organizada ao extremo. Ela ameaçou dizer algo, mas preferiu apenas se jogar no chão, em frente ao sofá, e esperar que ele se sentasse perto. Ele logo desistiu de dar jeito em tudo e sentou-se no sofá, revelando ao tirar os calçados, as meias levemente encardidas, algo que ela nem percebeu pois ele olhara em seus olhos e viu uma pequena fagulha de tristeza escondida, pedindo prontamente pra que ela contasse o que ocorria em sua vida. Ela achou estranho, ninguém pedia ou falava tal coisa, timidamente ela começou a descorrer sobre seus problema, enquanto ele parecia mais atento do que qualquer pessoa ficaria em situações assim. Ela contava tudo, ouvindo pequenas endagações dele, enquando preferia olhar pros pés, ela tinha a mania de olhar pra eles quando vulnerável demais, vez ou outra olhava pra ele tão perto.

  E como sempre, um assunto puxou o outro e aquela madrugada teve um pouco de tudo, risos e até a proposta de um casamento ao melhor estilo de Vegas, Elvis e Marilyn se casando, alianças com dados cravados e tudo que tivessem direito. A madrugada não tardou para tornar-se dia, como se de fato a noite fosse uma criança e pequena como tal, deu lugar ao dia, aquele adulto chato que gosta de tomar controle de tudo. Ela via sinais de cansaço nele, mas nem ele arredava os pés dali e nem ela ousava se mexer, até que o primeiro bocejo dele viesse. Em um pulo ela se levantou, puxou-o do sofá, praticamente obrigando-o a deitar na cama. Ela saira de lá saltitante e contagiada, o dia raiara a pouco e ela queria comer ou qualquer coisa que a mantesse em movimento, passando e repassando o que ambos falaram e tudo que descobriu e aprendeu. Ele provavelmente estaria no décimo primeiro sono, descansando, merecidamente.

    Mais alguns dias se passaram até que eles se vissem novamente, mas todos os encontros eram fabulosos, ele tinha o dom de fazê-la ficar sem jeito, ou deixá-la sem ter o que dizer. Ela acabava sempre rindo enquanto as bochechas coravam e ele achava aquilo lindinho, ela acabava rindo da cara que ele fazia ao constatar isto. Eles eram os mesmos de antes, em novas perspectivas, ângulos e estilos. De alguma forma, era tudo leve, como o movimento da pena quando sai da asa de um passarinho e paira no ar, até calmamente repousar no chão.

  Ela criou um hábito bobo, sempre que ambos se encontravam, levava uma música nova ou várias, como se quisesse gravar todos os momentos pelas melodias ou letras. Era algo para que ele ou ela se agarrassem quando longe. Eles dividiram histórias da infância, fotos embaraçosas, de tudo um pouco, quanto mais conversavam, mais pareciam se conhecer a séculos, era o que ela dizia. Seus gostos para comédias românticas eram iguais, ou para seriados que cairam no esquecimento de muitos ou até mesmo aqueles que estavam na moda. Havia ali um pouco do retrô, do moderno, do atual e do ultrapassado, em uma mistura louca e absurdamente fascinante.Era notável o brilho nos olhos dela, casado com seu sorriso persistente, ou o sorriso de canto dele, se divertindo com cada trapalhada dela. Ele se achava o tipo errado, absurdamente errado, ela achava que não levava jeito pras coisas do coração. Eles eram dois andarilhos sem rumo que por obra do destino se cruzaram. Ele tinha seus surtos e precisava ficar só e ela na mesma proporção tinha suas crises infindáveis.

   Certa noite, lá estava ele, quieto, olhar perdido e ela não sabia o que fazer, foi quando resolveu oferecer seu colo, era o melhor que tinha ali, diante da situação. Ele aceitou prontamente, apenas revelando seu dia cheio e complicado. Ele se aninhou no colo dela, como um gatinho manhoso que roça em sua caminha, procurando ficar confortável. Ela evitava falar muito, enquanto suas mãos percorriam os cabelos dele, procurando de algum jeito, acalmá-lo ou fazê-lo esquecer do dia que tivera. Não demora para que ele se livre de seus sapatos novamente, e lá estavam elas, suas tão características meias encardidas, ela riu, pois ele chacoalhava os pés freneticamente em sua frente. Era um garotinho ali de novo. Logo ela ofereceu um centavo por seus pensamentos e ele devolveu em resposta uma chuva de cócegas e ela se contorceu até que ele fosse bonzinho e parasse com golpe tão baixo.

 Ela tentou uma proposta mais aceitável, mas ele não cedia e as cócegas sempre voltavam, mesmo que ela tentasse se soltar dali. Pareciam crianças arteiras naquela sala. E mais uma madrugada se passou, com ambos em claro, dividindo, misturando e relatando suas histórias.

   Ela andava por ai, relembrando as conversas e as risadas e instintivamente ela ria junto, a cada memória pequena e engraçada. Ela se pegara pensando mais que o normal nele e ansiosa demais para vê-lo de novo. Ela teve uma idéia, tendo em vista que a próxima vez que se cruzariam, iria demorar. Ela chegou mais cedo em casa, certo dia e mexendo em suas coisas achou uma pilha de fotos, das mais variadas e no meio, algumas dele. Ela cortou, recortou todas e foi montando um belo álbum, brega, ela confessava, mas o intuito era não ser lindo absurdamente e sim atingir o objetivo e das piores hipóteses, arrancar alguns sorrisos dele. Ela procurou a música perfeita e tudo foi planejado, desde a cor das páginas, até a disposição das fotos. No dia seguinte, ela fora a uma joalheria e encomendou duas alianças ao melhor estilo de Vegas, ambos os dados marcavam 4 pontinhos, era o número da sorte dela. Ela guardou tudo juntinho, esperando o dia de vê-lo, por alguns dias ela ficou ansiosa com a perspectiva que havia trazido pra sua vida, mas tentava se acalmar antes que explodisse com tanta expectativa.

   Finalmente o dia chegou e lá estava ele, ela sorriu, perguntou rapidamente como ele estava e entregou em suas mãos aquele álbum com capa de cetim preto e fitas por todo lado e uma caixinha presa com uma fita com um laço. Ela voltou a roer suas unhas enquanto ele olhava tudo, sentado não muito longe dela. Ela arqueava a sombrancelha a cada reação vinda dele, ele não falava nada ou olhava em sua direção, ela estava cogitando gritar pra ver se ele dizia algo.

   Algum tempo depois, ele abriu a caixinha, onde havia um pequeno papel dizendo o clássico "Casa comigo?", ela se encolheu instintivamente, em especial quando ele começou a caminhar em sua direção. Houve um misto de calma com euforia, de medo com vontade de saber. Ele olhou em seus olhos e perguntou confuso se era sério, nele havia uma fagulha que brilhava nos olhos e ela timidamente disse que sim, que era verdade. Os braços de se entrelaçaram na cintura dela e instintivamente ela olhou pra cima, olhando pros olhos dele, ainda aflita com a resposta que não vinha. O sim veio quando os lábios dele tocaram os dela, num beijo sem pressa, sem vontade aparente que acabasse logo. O coração dela desparou a medida que seu corpo amolecia entre os braços dele, os braços dela circundavam o pescoço dele, mantendo o contato dos dois. O beijo esquentava a medida que havia uma necessidade aparente dos dois de se amarem ali mesmo, entre aquelas paredes, diante das mesmas paredes testemunhas de boa parte daquela história. As roupas viraram detalhes que caíam a cada instante, elas não eram necessárias diante do fato de que eles precisavam se sentir um do outro. As mãos roçavam nos corpos nus, ele aos poucos se tornava dela e ela dele, conforme se tornavam um. Ela era amada como jamais imaginara e ele se mostrava ali, a cada instante, a cada toque, focado nela e o mesmo acontecia de volta. Os corpos só se soltaram quando ele se afastou alguns instantes e ela sem pensar duas vezes, voltou pra eles, em um abraço de proteção e de vontade de estar perto, ali ela sussurrou: E eu agora nos declaro marido e mulher... E ele suavemente respondeu: Até que a morte nos separe, guria...

   A noite se passou e o dia veio novamente, ela acordou e lá estava ele, deitado, dormia serenamente, apesar de se mexer vez ou outra de maneira agitada. As alianças repousavam nos dedos de ambos e ela ria ao olhá-las, brilhando conforme a luz do sol entrava ali. O dia seria lindo, ela sabia já acordada. Ele acordou e riu ao vê-la já de pé, andando de um lado pro outro evitando fazer barulho, apesar de tropeçar umas vezes no sofá. Eles fizeram um pouco de tudo, apenas curtindo cada momento juntos. O dia pareceu voar e o tempo parecia que não pararia de correr mais. Eles riram deitados no chão, eles falavam olhando nos olhos um do outro, com cara de bobos de olhos brilhantes. Eles comeram besteiras, eles falaram besteiras e se descobriram de novo e de novo um nos braços do outro. A noite ia chegando e ela falou de sua vontade de dançar, apesar de não saber como fazê-lo mais e quando ela se dá conta, ele está em sua frente, esticando o braço, conviando-a para dançar. Ela se levantou enquanto se saculejava, mostrando sua falta de ritmo ou compasso. Ele a segurou pela cintura e foi levando-a no embalo da música do cantor mais preferido do universo dela, como ela costumava chamar. Os passos eram desajeitados, mas ali estavam eles, na dança deles, só deles. Era o cheiro, os toques, o carinho, a melodia, a respiração, o pulsar do coração, tudo junto, atado, unido. Ela cantava baixinho e desafinado pra ele "If I told you that you’re everything, would you sing along?" e logo os lábios dele se juntaram aos dela de novo. Mas logo a dança foi interrompida, ele se foi e ela continuou ali, ouvindo repetidamente a mesma canção, lembrando dos passos da dança. Ele de fato voltou, beijou a testa dela e saiu novamente, ele provavelmente voltaria logo...Ou não.

    E como se fosse o passado voltando, talvez pra se repetir como farsa agora, os dias voltaram a passar e tornar-se noites, como sempre ocorria, desta vez, nela havia uma ponta de esperança que o dia seguinte, ele estaria lá de novo, com seu riso fácil e sua fala mansa. E a rotação dos dias passou a ser mais pesada, a cada hora que passava. Ela ocupava sua cabeça com trivialidades, com seu trabalho ou com suas tão amadas músicas, mas seus pensamentos acabavam se redirecionando, mesmo que ela tentasse não fazê-lo. A porta nunca se abria, a não ser quando ela saia por ela, rapidamente, para que voltasse logo e quem sabe, tivesse a surpresa jogada em cima do sofá, com sua xícara de café, olhando pro nada enquanto a velha vitrola tocava qualquer coisa de seu gosto. É, eram só vontades daquela, agora, garota boba. Ela tentava sair, se divertir ou conhecer pessoas novas, mas da forma que se achava, apenas não era boa companhia.

    Quando se jogava no sofá, apenas para ver o tempo passar, acabava usando o tempo pra pensar em qual tipo de missão mirabolante ele se achava. Eram todas idéias com super poderes, bruxos, magos e nada nem passava perto do mundo de fato. Como ela lembrava uma criança. Quando estes pensamentos iam, de algum jeito, com o passar do tempo, ela passou a pensar que o sumiço parecia fruto do que acontecera, ela em certos momentos se culpava, apesar de não se arrepender. De algum jeito, ela se sentia como Andie Anderson, ou aluna dela, em suas táticas de perder homens com gafes corriqueiras, talvez fosse a explicação. Pelo menos ela teria aprendido algo de fato.

 Três semanas se passaram e nenhum sinal de vida, fumaça ou coisa do tipo. O apartamento se achava agora impecável, com tudo devidamente ajeitado, guardado, lavado e limpo, fruto de seu tempo vago e da compulsão por se manter ocupada naquele tempo. A espera fazia sua gastrite adormecida gritar novamente, o coração contraia-se como se gritasse pra que a ansiedade apenas fosse embora, mas ela nunca ia. A espera ia matá-la aos poucos, assim como a culpa que parecia tomá-la mais um pouco. Ela iria embora em breve, antes que de fato definhasse ali. Ah como ela sentia falta dele ali, rindo, brincando, sério, bobo, menino. Enquanto ela esteve ali sozinha, ela pode descobrir mais sobre ela, alguns detalhes que até então, eles nunca tinham falado ou comentado. Detalhes estes que ela nem pensava em falar ou comentar caso ele um dia aparecesse.

   Suas coisas estavam ajeitadas, ela pretendia devolver a ele seu espaço, que invadira quase sem pedir permissão. Aparentemente, estar só era mais agradável do que ter uma pessoa que fala mais que a boca por perto, ela supostamente entendia. Um pedaço de papel foi o que sobrou em cima da mesa de centro, ao lado a caneta dela, com uma fita rosa amarrada. A caneta foi batida por muito tempo ali na mesa, sem que nenhuma palavra começasse a sair. Era como se elas tivessem escapado apenas com a perspectiva dela se sentir vulnerável e fazer o que detestava. A aliança com um dadinho em cima que comprara, pairava ao lado do papel e ela se segurava para não colocá-la no dedo de novo. A caneta finalmente tocara o papel e uma pequena rajada de vento moveu os cabelos da nuca dela. Ela olhou pra trás e lá estava ele, parado atrás do sofá. Ela pensou em pular em seus braços, mas algo a prendeu, ele se encontrava sério, ele olhava pra sua mão e depois pra mesa. A sua voz saiu enquanto a questionava do porque não estava usando-a no dedo.

   Ela articulou a boca para responder, falando baixo em como perguntavam do par da aliança e seu dono e como se encontrava sem jeito com a situação. Ele não cedeu, estava ali, estático e frio. Instintivamente ela se encolheu e se calou. A voz dele ainda parecia contrariada, em especial enquanto ele olhava em volta. Ela apenas acenava com a cabeça em resposta, sem ousar articular os lábios pra qualquer resposta direta. Ele saiu de perto e foi para a cozinha, ali, ele achou um quindim e em um passe de mágica, ele foi voltando ao que era. Ali ele comeu e ela apenas o observava, quieta, ainda olhando pro papel em sua frente.

   Ele voltou pra sala com um sorriso no rosto, no fim, aquelas coisinhas amarelas faziam milagres com ele mesmo. Ela pode, timidamente e receosa, dizer que sentiu sua falta e ele fez o mesmo. A conversa tornou-se despojada por algum tempo, alguns sorrisos foram soltos, mas tudo tornou-se neblina quando ele olhou pra um dos cantos e viu tudo arrumado. As nuvens tomaram conta do ambiente e seus olhos entristeceram e tornaram-se receosos. Ela se encolheu mais ainda em seu canto enquanto ele perguntava se ela queria conversar, ela não queria, ela sabia como ficaria. A sua voz saia quase num sussurro enquanto ela dizia o que pensava e ele parecia indignado com o fato dela ainda estar sendo doce e compreensiva diante de tudo. Ela era assim, era melhor ser assim do que ser diferente e a sensação que isso trazia. Ela era fatalista ao extremo, costumava crer que tudo pra ela daria errado, cedo ou tarde, independente do aspecto, ela se preparava antecipadamente pra destruição que causava na vida das pessoas com seu jeito impulsivo, e lá estava sua nova destruição. Mais uma vez ela conseguiu. Ele olhava diretamente pra ela, enquanto ela apenas mirava seus pés, que tinham os cadarços desamarrados e os pés se encontravam tortos, era como eles ficavam quando ela estava sem reação.

  As palavras saiam de sua boca extremamente pensadas, ela não ousaria machucá-lo, isso a machucaria de volta. Ele parecia chateado com o quão forte ela tentava parecer, mas ela não queria que ele visse fraqueza, ela perdera muito com sua fraqueza sem tamanho e não pretendia perder de novo pelo mesmo motivo. O tempo voou, apesar do clima e ele tinha que se ausentar novamente. Eles combinaram se falar naquela mesma noite, quem sabe para ajeitar os pontos soltos. E lá foi ele por aquela mesma porta. Logo depois ela saiu também, iria deixar suas coisas em sua casa, respirar novamente antes de voltar.

   A noite chegara rápido e lá estava ela, novamente naquele apartamento. Ela colocou seus fones de ouvido, deixando que as músicas, como sempre, dissessem o que ela sentia. Ela sentia um misto de tudo um pouco e de quase nada, nem ela entendia o que se passava. Se perdeu em seus pensamentos e voltou por diversas vezes e ainda sim, estava sozinha ali, apenas esperando. Ela fechou os olhos com força e contou até três, ela queria voltar pra realidade mais agradável de antes, mas ao abrir os olhos, ela ainda estava sozinha e só Deus sabia como ela odiava a sensação de estar apenas em sua própria companhia. Seus pensamentos voaram e fizeram força pra que alcançassem os dele e ele aparecesse de fato e nada. O dia amanheceu e seus olhos ardiam, não por ter chorado, apenas por estar ali sozinha. Respirando profundamente, ela se levantou, vestiu seu casaco e saiu, precisava desesperadamente de algo doce naquela manhã. Achou seu sonho de doce de leite favorito e o devorou sem sentir o sabor, nem importava. Junto com ela, estava a mesma caneta de antes e a sua caneta. Ela respirou fundo, enquanto o peito se contorcia de dentro pra fora, trazendo mil sensações controversas, as palavras finalmente estavam pulando no papel, como se magicamente todas elas tivessem voltado.

   Ela colocou parte do que sentia ali, parte, apenas foi deixando subentendida, não devia ser uma despedida, apenas o desabafo de uma garota que sonhara demais e foi esquecida em seus sonhos. Ela terminou de escrever e voltou pro apartamento, parando na porta, ela não entraria, não queria sentir-se sozinha de novo. O papel, agora amarrado com a sua fita rosa, rolou por baixo da porta, ela olhou mais uma vez, com a idéia de entrar e pegar o papel de volta e rasgá-lo, mas sabia que devia ser daquele jeito. Então ela foi pra sua casa, deixando ali o único vestíigio, além da aliança que ainda estava em cima da mesa, de sua passagem por ali.


"Hey, você...
Espero que independente de quando for, leia isto até o fim. De fato não sei por onde começar ou terminar, apenas deixo que as palavras guiem e no fim, torço pra que elas cheguem a ti como pretendo.

Você foi uma das melhores coisas que me aconteceram, ainda considero que seja, mas acho que meus impulsos nos levaram a onde estamos hoje. Talvez se pensasse mais, como costumo fazer antes das coisas que não devo, tudo seria menos complicado e tudo voltaria a ser leve entre nós dois, certo? É a esperança de que podia fazer diferente e causar menos transtorno, nem que seja nos pensamentos mais remotos.

Conseguiu o que quase ninguém conseguiu, me fez sentir bem comigo mesma e ver que de fato, valia algo sim. Ensinou-me coisas e espero ter te ensinado alguma coisa aqui e outra aculá. E no fim, só agradeço por isso. É, agradeço sim.

Queria ter feito metade do bem que me fez e de algum jeito, nesses tempos, acabo tendo a impressão que não. E convivi comigo mesma um bom tempo pra entender porque, não te culpo.

A espera estava dura demais, machucando demais, é como esperar por alguém que a gente sabe que não vem mais, sabe? Como diz a música do Reação... Talvez estar sozinho, ou com outro alguém seja sua melhor opção, certo? Invadi sua vida sem pedir licença e me instalei sem indagar mais de uma vez se podia, talvez fosse o medo de ouvir um não. Mas agradeço pelo sim, mesmo que talvez tenha sido por ter ficado sem jeito em dizer que não. Mais uma vez, não te culpo.

De algum jeito, torço pra quem sabe em algum ponto possamos voltar a onde paramos, antes de toda a bagunça. Era bom o que tinhamos e, como sempre, estraguei tudo. Nem é novidade, sou uma bagunça. Enfim...

Isso era pra ser apenas um pequeno bilhete e virou este amontoado.

Caso não queira mais aparecer, quero que se cuide, mesmo e acima de tudo, sorria, não sabe o poder que tal sorriso tem nas pessoas. Seja o que é e isso vai bastar.

Senti e vou sentir sua falta.
Amo-te...
Um beijo na ponta do seu nariz."

   A sua casa parecia mais escura que o normal e tudo parecia diferente, um misto de preto e branco. Ela não trancou a porta, apenas a deixou entreaberta, ainda havia esperança nela. Foi até seu bar e pegou um copo e uma garrafa qualquer, ligou seu aparelho de som logo em seguida, escolhendo a música, Caruso de Lucio Dalla tocava baixo, enquanto ela se encontrava na penumbra do que era, do ambiente e do que pensava. A garrafa apenas lhe fazia companhia, enquanto seus lábios se mexiam no ritmo da canção. Era triste na mesma proporção que ela estava triste. Ela não choraria, foi o que prometeu a si mesma, apesar de saber que era fraca demais pra que a cumprisse. O sono veio, ela não sabia de onde e seus olhos pesaram finalmente. Dormira ali, agarrada a sua dor, agarrada a garrafa de bebida, embalada pela música fossal e acordou com os olhos colados, aparentemente, os sonhos não foram tão melhores quanto a realidade. Ela limpou seus olhos e olhou em direção a sua porta, ainda entreaberta. Ela riu se levantava e caminhava até lá. Ela parou, apoiando as mãos nela por alguns segundos, fechou os olhos por alguns segundos, enquanto cantarolava baixinho para si mesma. A porta se fechou, ela encostou a cabeça ali e as pequenas lágrimas finalmente escorreram enquanto ela ria de si mesma, a voz saia embargada e rouca enquanto ainda cantava " So I walk up on high and I step to the edge to see my world below... And I laugh at myself while the tears roll down, 'cause it's the world I know" Ela ainda esperaria, de alguma forma, qualquer resquício ou pedaço dele aparecer em sua vida e outra música veio em sua cabeça ao constatar isto, mas estas palavras não disse, apenas guardou para si "It's not a second, it's seven seconds away. Just as long as I stay I'll be waiting"

Vida fake, off, do avesso, pra cima e para baixo \o\


O que irei escrever hoje? Ah, ok, ok, nem vou escrever, ok, na verdade vou, mas enfim.

Estes dias falaram sobre a possibilidade de se possuir um perfil fake onde utilizaria, nada mais, nada menos, do que o seu próprio rosto para ilustrá-lo. Ok, para uma navegante do mundo azul calcinha poderia dizer com propriedade a primeira regra deste mundo "Não usar seu rosto pra um perfil fake". É, porque do contrário perde-se a essência da brincadeira. Há muito mais por trás de um simples perfil onde se pega fotos alheias (totalmente sem permissão, claro) e as utiliza, com o intuito de conversar com pessoas desconhecidas apenas pelo prazer de conhecer gente nova, que tendenciosamente nunca encontraria na rua e pararia para conversar(pelo menos eu, meus sapatos são mais interessantes que o mundo HAHAAHAH).

Ern, estou com sono e amanhã continuo o assunto, porque perdi o fio da meada. Só lembro que iria imortalizar postagens do meu perfil mais xodó do mundo (Andie Anderson own*) e as postagens do meu aniversário de 300 anos atrás, mas que é melhor guardar antes que mais alguém se delete (leia-se Juliana, Vivi e companhia limitada. HAHAAHAAH).


Own, li o post da María Elena e tipo, gamei de novo, então colocarei só o dela por hoje. *-*

"Maridínia, antes de começar com as minhas babaquices emocionais, devo explicar porque estou me pronunciando só agora. cry* Estou sem net, e agora dependo da net do Mike quando ele vem. Mas um dia antes eu já estava com ele, bolando planos mirabolantes (que no fim não deram em nada) pro seu aniversário. Ow derrota [/Andie], justo no seu aniversário estou em Madri?

Li tudo, achei tudo lindo e concordo com todo mundo, o que limita muito meu post, o que é péssimo.
Mas vamos lá, chover no molhado, não é mesmo?

Andie é a pessoa mais coração aberto daqui, como Phil bem disse, ela é o que é, Andie não faz tipo, não faz gênero, ela é essa menina sapeca, que tem um jeitinho doce, mesmo quando fala de sacanagens (Form criou um montro, e Phil ensinou tudo a ele, gente. AHUAHUAHAUHAUHAUHAU), que mesmo sofrendo, ri, mesmo chorando, se mantém otimista, mesmo quando chegamos a conclusão que não temos mais pra onde afundar, ela vê que pelo menos paramos de cair. Andie não faz drama, Andie é simples, e isso não a desmerece, ao contrário, isso a torna única num lugar onde todo mundo é bipolar, complexo, tem câncer terminal... Andie é aberta (devia ser menos, dels como sofro), ingênua, carinhosa, meiga e o sorrisão? E o popôzão? Ela é toda boa, de corpo, alma, mente e coração. Ela não vê na outra uma ríval, ela vê uma amiga, uma irmã, e é como todas nós a vemos.
Não tenho muito mais o que dizer, ela sabe bem tudo o que sinto, e o que nossa amizade significa na minha vida, sabe que eu a amo, e que morro de saudade de entrar aqui e rir, rir como uma hiena das nossas vidas (nem me desejaram uma boa vida =) me sinto excluída?) de como rimos da vida dos outros, de como rimos, ponto. AHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHU
2010 é o ano, Maridínia. Esse ano a coisa vai ou racha. AHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUA
Profetizei (crente da Universal) que esse ano tudo ia melhorar pra gente, já começamos botando os encosto de escanteio, feng shui? Acho que é isso, primeiro tiramos o lixo pro que é bom entrar.

E acho 22 anos uma idade muito digna pra que certas coisas aconteçam, sacou, sacou? AHUAHAUHAUHAUHAUHAUHAUHA
Argh, chega, eu disse ali que não tinha muito a dizer, e olha eu falando mais que o homem da cobra?
Te desejo o melhor na sua vida, que a gente logo mais se encontre (sinto que desse ano não passa), que você seja uma mulher realizada e plena em todas as áreas da sua vida, que não esqueça dos amigos de fundo de poço quando tudo ficar bem, nada de desejar boa vida pra gente =) ok? HUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAH
Maridínia, eu não vejo mais a minha vida sem você. çç
Que seja doce, como bem diz a nossa Soso. *-*
Amo você, sou sua fã número 1! [/Annie Wilkes] Queria te trazer pra minha casa, te amarrar na cama e cortar seus pés pra que nunca mais fosse embora. ain* Ern.. ok, eu amo você e pode ficar aí, e se quiser vir aqui, prometo deixar voltar pra sua mamys, palavra mesmo. çç. AHUAHAUHUAHAUHUAHAUHUAHUA
Tô falando muito abobrinha, é o sono, tenso.
Tenha uma boa vida, maridínia! [/Sem ironia/Garrett]



Descobri que isto nunca foi respondido e me senti absurdamente relapsa. No dia tinha gasto tudo com a postagem para o Phil e minha maridinia ficou, mas ern, amanhã eu digo o que penso. Melhor, amanhã vou escrever pra todo mundo (Reparem como não sei o que quero da vida.)
Minha inspiração sumiu com o frio, por isso os textos melancólicos ficam para a hora que o frio passar. HAAHAAH



segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Relapsa.

Ok, ando relapsa pra sempre. Voltarei a postar. Há quem diga que melancolia é o combustível para quem escreve. Bom, meu oitavo pecado capital, está presente de novo. (Sim, a melancolia é considerada o oitavo) Mas prometi escrever textos menos tristes e até na terceira pessoa, vamos ver se na próxima rola. HAHA. Arrivaderi ;*

O dedo pulsa em protesto. A lâmina corta deixando em si um pequeno rastro de sangue. É ai que a dormência vai embora. A música ecoa em minha cabeça alta e clara "I'll cut my skin to show you I'm alive". Era o que se passava nestes pequenos segundos que observava a pequena gota de sangue aumentando ali. A dormência continuava em todas as outras partes do corpo, exceto ali. A dor, pequena mas persistente, existia e provava que ainda havia vida ali. Esta tal dor aos poucos se espalha por todo o corpo e é dificil aguentá-la, algumas lágrimas saem dos olhos ao passo que a dor some. Não era mais a dor causada pelo corte, era a dor de uma alma que se calou diante do que viu e do quanto fora idiota. Era forte, tinha que ser assim, pelo menos aos olhos dos outros. As lágrimas logo sumiram e o sorriso brotou novamente. Era minha melhor máscara, que trazia acoplada as piadas, as gracinhas, a fantasia de boba da corte. De fato era boa nisso.

A máscara apenas esconde as cicatrizes e dá abertura pra que novos horizontes apareçam quando menos se espera. O sorriso de uma pessoa não tão desconhecida, o abraço de alguém que se estima, o toque da mão na de outro alguém sem que nenhum dos dois espere isto, o riso frouxo que vem sem pedir licença, a companhia mais querida e amada que tanto faz falta, a canção que toca no fundo enquanto as pessoas falam, sem nem ao menos notar a melodia que os embala. É, a máscara é linda e tem me levado a ver tudo o que a dormência estava impedindo.