domingo, 12 de junho de 2011

'Cause you love and you bleed [2]


Existe uma pessoa, que há pouco tempo conheci, que tem um carinho especial por minha personagem mais adorada, especialmente pela história que envolve sua vida louca e a de um policial bêbado chamado Van Ray. Confesso ter negligenciado tal história, talvez pela vontade absurda que tenho de guardá-la só pra mim, já que fui parte da história e vi tudo de camarote. Dois anos e meio se passaram e a história ainda me fascina e traz a tona uma série de coisas que pensei ter esquecido. Talvez esta seja a sensação de que tudo entre Andie e Van tenha terminado sem de fato ter terminado. É fato que ela ainda pensa nele quando sente o cheiro de café torrado, ou quando vê um quindim(porque era o doce capaz de melhorar o ânimo dele e dela instantaneamente), ou de cigarros mentolados (tudo porque ele costumava dizer que cigarros mentolados eram coisas de boiolas), ou quando simplesmente escuta Gavin DeGraw, porque, ah... porque sim.

Andie e Van teriam vivido pra sempre juntos(neste caso seria sempre mesmo), se não possuíssem uma válvula de auto-sabotagem inserida em seus cérebros.

Ela não acreditava em sorte, nem acreditava em se arriscar, nem na possibilidade de conseguir cativar qualquer pessoa a sua volta sendo exatamente a bagunça que era o tempo todo, então apareceu alguém que simplesmente ria daquela bagunça toda, de toda a fragilidade que ela tentava esconder por trás do sorriso constante estampado em seu rosto, ele dizia que era lindo tudo aquilo. Ele era movido na base do 8 ou 80, acreditava na intensidade e que ela devia ser aproveitada, não acreditava que merecesse carinho ou qualquer sentimento bom vindo de qualquer pessoa, uma vez que dizia que tinha feito tanto em sua vida que estava fadado a ser rei do inferno e conheceu Andie, que não ligava pro passado dele e para o fato de que ele era um emaranhado de experiências passadas, que o tornou único.

Eles se chocaram ao acaso, descobrindo laços que remetiam a anos muito mais distantes do que se pensava. O acaso virou história, o acaso tornou-se um conto, não de fadas, porque nenhum dos dois acreditava nestas coisas e, acima de tudo, o acaso foi vivido da maneira mais intensa possível.

Nem tudo é simples, até mesmo na “quase ficção” e esta história dá muitas voltas até o fim que ern... evito escrever. Uma vez que não se fala ou escreve sobre ele, é sinal de que ele não aconteceu, certo? É um bom ensinamento pra vida, gente. HAHAAHA

Então me perguntarão: qual foi o desfecho da história contada em " ‘Cause you Love and you bleed [1]”? Tudo terminou ali? Ela esperando que ele voltasse enquanto remoia as escolhas feitas certa vez?

Não, a história não terminou assim. Ocorre que depois de algum tempo esperando, Andie viu que precisava reagir, tomar outros caminhos e perseguir outros objetivos. María Elena ajudou-a na tentativa de enchê-la com o máximo de martinis que conseguisse, adoçando a empreitada com espanholas feitas com o vinho mais fajuto encontrado nas prateleiras de um supermercado, alem de uma trilha sonora digna de suicídio, com todas aquelas músicas que arrepiam até a alma. Nos dias seguintes, Andie lembrava-se de pouco, afinal a dor de cabeça e a ressaca acabavam virando sua única preocupação nas duas semanas que se passaram.

Andie não gostava de incomodar ninguém e ficou todo este tempo na casa de María porque ali parecia mais seguro do que entrar em seu apartamento, tão cheio de lacunas, tão vazio, com fantasmas de tempos mais áureos andando de um lado para o outro.

Após este tempo abusando da hospitalidade de María, resolveu que precisava dar uma sacudida e partir para novos mundos e, quem sabe, conhecer gente nova.

As boates pareciam as mesmas de sempre: mulheres colocando todas suas armas pra fora (enquanto umas mostravam ousadia em um decote, ou um vestido curtíssimo, outra arriscavam na sutileza do esmalte ‘Vermelho, hoje to na pegada’ ou num batom ‘Rosa, pegael’) e os caras como leões, estufando seu peitoral e sacudindo suas jubas, enquanto confabulavam sobre quem deveriam tentar vitimar com suas cantadas treinadas em frente ao espelho do banheiro.

Ela arriscou e se jogou, levemente desengonçada, como sempre, tentou arriscar pequenos passos de dança, enquanto cantarolava a canção escondida embaixo do tuntz tuntz frenético.

Encontrou algumas pessoas conhecidas, trocou meia dúzia de palavras e disse para si mesma que só sairia daqui quando o sol resolvesse raiar. E assim o fez, só saiu dali depois de conhecer até os faxineiros do local, uma vez que apenas ela e eles sobraram no local depois das 6 da manhã.

A sensação de liberdade e de estar viva fizeram bem a ela, ela podia fazer o que quiser novamente, mesmo que, naquele momento, ela não soubesse o que diabos isso significava.

Os dias passaram, ela tentou achar novas facetas dentro dela: a ousada, a desapegada, a sem rumo, a segura, a nada segura e em cada noite do mês seguinte, ela arriscou uma dessas, vendo e analisando tudo que vinha de feedback no fim da experiência.

Ela seguiu em frente, sem deixar de pensar no que poderia ter sido se a porta um dia abrisse novamente. Era seu segredo, afinal, a única testemunha disto era seu peixinho, Thor.

Meses se passaram e com eles, várias pessoas, vários rostos, várias personalidades, mas nenhuma chegava perto do que ela esperava. Então a voz de Van acabava ecoando em sua cabeça “Depois que se prova o melhor e mais puro, é difícil se contentar com a segunda opção.”

A porta de fato não se abriu, mas a janela sim.

Era um dia nublado e preguiçoso, ela ligara para seu trabalho dizendo que estava com muita cólica e nem do sofá conseguia levantar. Mentira pura, mas o suficiente para a editora infernal da revista parasse de amolá-la, cobrando-a sobre a matéria “Como perder um homem em 10 dias”. Ela sabia de cor, apenas se fez de rogada para escrever tal matéria, evitando cutucar o que encontrava-se quieto.

Na televisão passava uma maratona de filmes de terror, ao seu lado encontrava-se uma vasilha cheia de carolinas e em seu colo estava um caderno, que rabiscava trechos de músicas que passavam em sua cabeça, enquanto tentava iniciar um caderno de cartas, daquelas nunca enviadas, que um dia viram um célebre livro, mostrando a vida de alguém que as pessoas de fato se interessariam em conhecer.

No filme, a moça corria pela floresta(porque em todos a idiota corre pro escuro ou para o meio do mato), enquanto um louco com uma faca a perseguia e Andie pouco se importava, até olhar pela janela e ver uma pessoa parada em sua janela. O grito foi escandaloso enquanto ela tentou pular do sofá para se esconder e tudo que conseguiu foi tropeçar na coberta e cair estatelada no chão. Em meio ao medo, ela olhou para a janela e viu a pessoa do outro lado rindo da cena.

Aquele sorriso... o sorriso capaz de provocar o adiantamento da primavera, de se mostrar mais divertido do que uma ida a um parque de diversões e capaz de causar erupções dignas do Vesúvio. Andie não precisaria perguntar quem era, mas ela o fez mesmo assim:

- Quem é você?

- Sou eu, Andie, o Van... – A voz dele tentava controlar o riso, que se misturava com o toque de receio que veio em cada palavra proferida.


- A porta não é mais uma opção? – Ela perguntou enquanto engatinhava para perto da janela, levantando-se logo em seguida.

Ficar frente a frente com ele fez seu mundo dar três voltar e retornar a onde ela estava. A sua pose era a de quem tinha o controle da situação, quando na verdade, por dentro cada pequeno órgão seu tremia.

- Acredito que pediria ao porteiro para que me mandasse ir para lugar inimaginados e que não voltasse mais, mas eu não podia... – Ele continuaria, caso ela não tivesse tão concentrada do outro lado, tentando soltar a tranca da janela. Ele abaixou a cabeça e riu, falando calmamente – Como você consegue ter problemas até com uma simples janela, guria?

- Sabe que este é meu charme e mais, é esta tranca que está quebrada, não é minha culpa. – Ela armou um bico enquanto tentava abrir a janela de todo jeito.

- Já tentou apenas levantar a tranca e não puxá-la? – Ele sabia que funcionaria.

Ela arqueou a sobrancelha e fez o que ele disse, finalmente abrindo a janela, deixando que o vento frio daquele dia entrasse na sala. Ela não esperou que Van entrasse e logo se dirigiu ao sofá, enrolando-se na coberta, enquanto esperava que ele se acomodasse.

Ele se ajeitou no sofá, enquanto o silêncio dominou os dois. Ninguém queria começar, era difícil demais. O nó encontrava-se preso na garganta dos dois e tudo que se dignaram a fazer foi olhar o filme, onde mais alguém tinha morrido, como ocorria nos clichês hollywoodianos.

Ela encolheu-se em seu canto, pondo os pés em cima do sofá, prendendo os joelhos com os braços, ela quis sorrir ao ver que ele estava bem de fato, mas preocupou-se ao constatar o tamanho das olheiras dele e o quanto parecia magro e cansado. Era estranho para Andie calar-se, ela sempre teve o hábito de falar mais do que uma vitrola. Para sua surpresa, ele quebrou o silêncio:

- Eu te devo tanta coisa, Andie... – Ele parecia lutar para que cada pequena palavra saísse de sua boca. – Eu sei que acredita que sou um maldito e mais um monte de outras coisas...

- Eu te xinguei de coisas piores, confesso... – ela interrompeu, com um meio sorriso.

- Eu mereço, eu sei. Ensaiei para vir falar contigo por muito tempo, porque sinto que precisava te dizer algumas coisas. – Ele respirou e continuou a olhar para a televisão – Eu quis voltar, Andie. Mas eu não podia, sabe? - Ele olhou para ela com aqueles olhos, ah aqueles olhos de uma profundidade sem tamanho.

- Por que não podia, Van? Era tão ruim assim? – Ela desviou os olhos para o chão, encolhendo-se ao vislumbrar uma resposta positiva.

- Não, Andie, não era por ser ruim. Eu sou ruim, entende? Eu te enganei em detalhes da minha vida que não deveria, mas não fui homem que conseguiria dizer não para você, quando era você vindo em minha direção. – Ele parou e se aproximou um pouco dela, que se retraiu mais ainda. Ela sabia que tinha em si a habilidade de esquecer o que as pessoas faziam facilmente e Van Ray, bom, Van Ray era sua fraqueza desde o primeiro minuto.

- Talvez se tivesse dito, tudo estaria bem. Ainda esperaria por nossos encontros esporádicos, como bons amigos e tudo ficaria bem. Acredito que me conhece o suficiente para saber que quase tudo para mim vira um amontoado de risos. Já iss... – Van Ray chegou mais perto, desta vez encostando a mão no queixo dela, fazendo com que ela olhasse para ele. Ela tentou se controlar, mas era chorona e logo não agüentaria, sabia disso.

- Andie... pare com isso e deixe que eu diga o que quero? – O rosto dele se aproximou mais dela, ela pôde então sentir o cheiro de cafeína do hálito dele, imediatamente Andie fechou os olhos, enquanto um pequeno filme passou em sua cabeça – Você tem essa pose de que tudo está ótimo, tudo está perfeito, quando por dentro é frágil, evita se arriscar por medo de se machucar e se priva das coisas. Eu sei disto, te conheço o suficiente para saber este detalhe seu. Não quis te machucar, sabe? Não foi esta a intenção, em momento algum. Tive vergonha de reaparecer, sabendo que conhecia coisas que de fato fariam com que quisesse que eu ficasse longe de ti.

- Van, sabe qual foi a única coisa que precisei neste tempo todo? Que você entrasse por aquela porcaria de porta, sentasse em minha frente e dissesse a verdade, nada mais que isso. Eu posso conviver com a verdade, eu não sou tão frágil como pensa. Talvez eu até seja, não sei, mas sei fingir bem que não sou. – Seu cenho enrugou, enquanto seu queixo encontrava-se levemente trêmulo segurando o nervosismo.

- Eu já disse que tive vergonha de falar contigo e sabe por quê? Porque pela primeira vez, perdi meu sono. Eu nunca perco meu sono com as outras pessoas. Como costumo dizer, fui criado na selva, enquanto mato um leão por dia, mais um, menos um, não faz diferença para mim. Mas você, Andie... – Ele suspirou e ela se manteve impassível – Você é diferente. Eu não sei exatamente o que é, mas sei que é diferente, tem uma inocência em você que me cativa e impressiona. É como se fosse impossível fazer algo a você sem de fato incomodar.

- Sabe, isto até deve ser verdade. María Elena diz que fui uma das únicas pessoas que ela não conseguiu fazer maldade e olha que ela pode ser péssima com as pessoas – Ela riu como uma boba e depois ficou séria – Desculpa, eu não sei ficar neste clima pesado muito tempo. Foi só pra descontrair.

- Está vendo? Você é diferente e eu não sabia como olhar pra você.

- Sabe, Van? A culpa não é toda sua, eu tive culpa nesta história. Eu fui precipitada, eu podia ter sido menos intensa, mas achei que seria bom tentar algo diferente, ser ousada, apenas para variar. E eu errei também. Mas confesso que pensei numas 30 formas diferentes de te arremessar pela janela a hora que você voltasse, já que não posso mais comer quindins sem chorar. Eu só fico feliz em saber que você está bem. – Ela sorriu, tentando acabar com a atmosfera pesada que pairava na sala.

- Pequena... eu senti tanto sua falta. – Disse enquanto olhava para ela.

- Eu senti a sua, Van – A cabeça dela encontrava-se dominada por dezenas de pensamentos e o estômago cheio de borboletas enquanto seu coração soava como a bateria de uma escola de samba.

A conversa dos dois mudou o rumo e logo estavam falando de banalidades, sem de fato esquecerem o que tinham dito anteriormente. Ambos tinham muito a ponderar, quando estivessem sozinhos. Naquele momento, apenas curtiam a “não ausência” um do outro, evitando passar por assuntos que tocassem nas feridas, tão abertas e expostas ainda.

Este ainda não é o fim, prefiro protelar mais um pouco para contar os caminhos cruzados antes que Andie e Van mudem seus caminhos e acabem não se encontrando mais. A intensidade da relação dos dois é enraizada demais nesta pobre escritora, para que acabe saindo com a facilidade necessária.

É o que tem pra hoje, pessoas. Divirtam-se. Logo vem mais, tenham fé. HAUAHAAUA

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